quarta-feira, 25 de março de 2015

Gêneros Literários - O Dramático


Todos nós, seres humanos, somos movidos por nossas emoções. Alegria, medo, tristeza, angústia, apreensão são forças que se escondem por trás de nossas ações mais sinceras ou menos compreensíveis. Desde a antiguidade, o gênero dramático privilegia o estudo das emoções humanas.
O teatro apresenta uma linguagem própria: iluminação, música, figurinos, cenários são elementos da linguagem cênica que contribuem, junto com o texto e a interpretação dos atores, para criar a ilusão de lugares, tempos e personagens nos espectadores. No momento de criar o texto teatral e combinar esses recursos, o autor pensa na platéia e no tipo de reação que deseja provocar. Percebe-se assim, nesse gênero literário, a participação mais direta do público com um dos agentes do discurso.

Teatro Oficina Uzyna Uzona

Peça "Luis Antonio Gabriela" Cia Mungunzá


O gênero dramático
Aristóteles observa, na Poética, que o termo drama (do grego drân: agir) faz referência ao fato de, nesses textos, as pessoas serem representadas “em ação”. Ao identificar o drama como um dos gêneros literários, Aristóteles considerou importante desses textos: eram feitos para ser representados, dramatizados. Em resumo, textos dramáticos são aqueles em que a “voz narrativa” está entregue ás personagens, que contam a história por meio de diálogos e monólogos.
Acredita-se que esse gênero tenha nascido da dança, que era tida como uma espécie de ritual com capacidade de alterar algumas condições necessárias à sobrevivência e ao bem-estar das pessoas. Portanto, a dança teria despertado no homem a necessidade de representar.
É necessário destacar dois elementos essências que são e sempre foram essenciais  para esse tipo de texto:
·         A importância do público
·         A possibilidade de desencadear emoções por meio da representação.

O gênero dramático desenvolveu-se por meio de duas modalidades: a tragédia e a comédia.

A tragédia

Originou-se dos festivais realizados em honra a Dionísio. Pode ser definida como uma peça teatral na qual figuram personagens nobres e que procura, por meio da ação dramática, levar a platéia a um estado de grande tensão emocional. Geralmente, as peças trágicas terminam com um acontecimento funesto.
A comédia

A origem da comédia é a mesma da tragédia: os festivais realizados em honra a Dionísio. Alguns dos festejos ocorriam durante a primavera e costumavam apresentar um cortejo de mascarados. Esses cortejos recebiam o nome de komos, daí o nome comédia (komoidía: komos, a “procissão jocosa” + oidé, “canto”. A pé ou em carros, eles percorriam os campos dançando, cantando e recitando poemas jocosos em que satirizavam personalidades e acontecimentos da vida pública e, mais tarde, depois que a democracia caiu, a liberdade foi prejudicada e as críticas políticas deram lugar as sátiras comportamentais e de costumes das pessoas comuns.

Assim, enquanto a tragédia desenvolve temas sérios, apoiados na ação mitológica e as personagens são deuses e semideuses, a comédia se caracteriza por sua leveza e alegria, aborda episódios cotidianos e as personagens são seres humanos e reais.

O gênero dramático na Idade Média: Devido à forte influência da religião católica, as peças de teatro medieval passaram a enfocar cenas bíblicas e episódios da vida de santos. Duas modalidades dramáticas tornaram-se bastante populares nesse período: o auto e a farsa.
O auto é uma peça curta, em geral de cunho religioso. As personagens representavam conceitos abstratos, como a bondade, a virtude, a hipocrisia, o pecado, a gula, a luxúria. Isso fazia com que os autos tivessem um conteúdo fortemente simbólico e, muitas vezes, moralizante.
A farsa era também uma pequena peça, só que seu conteúdo envolvia situações ridículas ou grotescas. Tinha como objetivo a crítica aos costumes.









terça-feira, 24 de março de 2015

Gêneros Literários - O Lírico

O gênero lírico

A poesia lírica surge como uma forma de atender ao anseio humano de expressão individual e subjetiva. Ela de define pela expressão de sentimentos e emoções pessoais. Uma outra marca característica de sua estrutura é o fato de dar voz a um sujeito lírico, diferente da narração impessoal própria da épica.
Esse gênero define-se, portanto, como aquele em que uma voz particular – o eu-lírico (ou eu poemático) – manifesta a expressão do mundo interior, ou seja, fala de sentimentos, emoções e estados de espírito.
No início, os poemas líricos eram cantados, geralmente acompanhados pela lira, um instrumento musical de cordas. Foi do nome desse instrumento que derivou a denominação do gênero literário como lírico.

A separação entre poesia e música só aconteceu depois da invenção da imprensa, no século XV, quando a cultura escrita passou a prevalecer sobre a cultura oral. É por essa razão que, para os antigos, a lírica é sempre associada à música e ao canto, enquanto, para os modernos, ela se define essencialmente pela expressão subjetiva.
Embora vários poetas da Antiguidade tenham se dedicado à composição de poemas líricos, esse gênero literário não era tão valorizado quanto o épico ou o dramático. Foi somente no Renascimento italiano que a poesia de expressão subjetiva ganhou o reconhecimento equivalente ao dos demais gêneros. Isso acontece quando o gosto do público leitor foi conquistado pela poesia amorosa de Petrarca e seus seguidores. Desse momento em diante, consolidou-se a identificação da lírica como um dos três grandes gêneros literários.
Desde o nascimento da lírica, várias foram as estruturas utilizadas na composição de poemas. Algumas se tornaram mais conhecidas, uma vez que permanecem em uso ao longo dos séculos. São elas:
  • ·       Elegia: poema surgido na Grécia Antiga que trata de acontecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de um ente querido ou de alguma personalidade pública.
Federico Barocci "La fuite d'enée"

  • ·         Écloga: poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre. Muito desenvolvido entre os séculos XVI e XVIII.

  • ·         Ode: poema também originado na Grécia Antiga que exalta valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.
  • ·         Soneto: a mais conhecida das formas líricas. Poema de 14 versos, organizados em duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).

Recursos poéticos
Quando lemos um texto, a nossa atenção costuma se voltar para o sentido das palavras. Ao fazer isso, analisamos seu aspecto semântico. As palavras, porém, também têm uma sonoridade muito explorada pela literatura, essa sonoridade é a base para a construção de recursos poéticos, como o ritmo, o metro e a rima.
  • ·         Ritmo: pode ser definido como um movimento regular, repetitivo. Na música, é a sucessão de tempos fortes e fracos que estabelece o ritmo. Na poesia, ele é marcado principalmente pela alternância entre acentos (sílabas átonas e tônicas) e pausas.
  • ·         Metro: é o número de sílabas métricas de um verso. A contagem dessas sílabas chama-se metrificação. Quando contamos as sílabas em um verso, não devemos considerar as que ocorrem após a última sílaba tônica do verso.
  • ·         Rima: é a coincidência ou a semelhança de sons a partir da última vogal tônica no fim dos versos.





Gêneros Literários - O Épico

Gênero épico

Os longos poemas narrativos, em que um acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo solene, grandioso, são chamados épicos ou epopéias. O termo deriva do grego épos, que, dentre outros os seus significados, quer dizer palavra, verso, discurso.
As narrativas mais antigas têm um ponto em comum: todas contam os feitos extraordinários de um herói.
Provavelmente, a narrativa mais antiga que se tem notícia é a que conta, em versos, a história de Gilgamesh, rei de Urak, na Babilônia, que viveu por volta de 2700 a. C. É também a primeira epopéia a narrar os feitos de um herói pátrio. Apesar disso, considera-se que as obras épicas mais importantes para a literatura ocidental são a Ilíada e a Odisséia, que surgiram bem depois, por volta do século VIII a. C., e cuja autoria é atribuída a Homero. Supõe-se que tanto a Ilíada quanto a Odisséia tenham se originado de cantos populares e declamações em festivais religiosos.
Original da Ilíada, de Homero

Esses dois poemas épicos são considerados clássicos ou primários. Todos que se inspiraram neles são chamados de imitação ou secundários, como a Eneida, de Virgílio e Os Lusíadas, de Camões.

Mímese: um conceito muito importante para Aristóteles é o de mímese, que em grego significa imitação. Em sua obra Poética ele desenvolve a ideia de que a função da literatura, principalmente do teatro, é criar representações (imitações) das ações e comportamentos humanos, das paixões e forças que nos levam a agir. Segundo Aristóteles, quando observamos as representações criadas nos textos literários, vivemos experiências semelhantes às das personagens e aprendemos com isso.

As epopéias de imitação ou secundárias: Eneida, a primeira epopéia de imitação, foi escrita pelo poeta Virgílio entre os anos 30 e 19 a. C. Esse poema é considerado “a epopéia nacional dos romanos”, porque foi composta para glorificar a grandeza de Roma.
É no Renascimento, porém, que surge o mais conhecido poema épico de imitação, Os Lusíadas, de Luís de Camões. Escrito em uma sociedade bastante diferente daquela que viu surgir a Ilíada e a Odisséia, o poeta camoniano revela, na caracterização do herói Vasco da Gama, o objetivo de exaltar a bravura do povo lusitano, por ele representado no poema.
Ilustração de "Os Lusíadas"

Exaltação do povo: o fato de Camões escrever em um momento em o que Estado está claramente organizado e é responsável pela vida das pessoas faz com que a individualidade do herói deixe de ser importante. Assim, o que é exaltado é o povo lusitano que alcança a imortalidade por meio da figura do herói que o representa.
As transformações do herói: ao longo dos séculos, o conceito de poema épico se transformou para acomodar as mudanças sociais e políticas por que passaram as sociedades humanas. A maior transformação aconteceu no século XVIII, quando os longos poemas narrativos entraram em declínio e surgiu, como alternativa mais apreciada pelo público leitor, a narrativa em forma de romance.
Escrita em prosa, o romance também focaliza as aventuras de um herói. Mas, diferentemente do herói épico, o herói do romance representa muito mais o indivíduo do que o povo a que pertence. O tempo da glorificação das conquistas pátrias, por meio do herói, havia passado.
As sociedades europeias encontram-se claramente estruturadas, com seus limites geográficos e políticos definidos. Não é mais necessário, portanto, construir literariamente o conceito de “pátria” por meio das realizações extraordinárias dos heróis épicos, como aconteceu durante parte da Antiguidade e do Renascimento. Agora é a hora do triunfo do indivíduo, ao ser humano comum, como em Robinson Crusoé e O conde de Monte Cristo. O herói é, acima de tudo, um ser humano normal e pode fraquejar e sucumbir às tentações. O herói moderno enfrenta uma série de problemas cotidianos e luta para superá-los sem qualquer tipo de auxílio divino. Os obstáculos que enfrenta também são cotidianos e, geralmente, simbolizam as dificuldades de se afirmar a própria identidade em centros urbanos nos quais se aglomera um sem-número de indivíduos “anônimos”.
Esse é o motivo que explica a enorme popularidade do romance ao longo do século XIX: ele traz histórias de pessoas muito semelhantes ao seu público leitor, que também enfrenta uma série de obstáculos cotidianos.

"O senhor dos anéis"




Gêneros Literários

Quando ouvimos falar de um filme épico, imediatamente visualizamos cenas de batalhas grandiosas, com a presença de heróis destemidos, defendendo valores como a honra e a justiça. Por sua vez, quando se trata de um filme romântico, sabemos que provavelmente veremos cenas líricas, em que as emoções estarão presentes. Por que fazemos essas ligações? O que nos leva a associar o épico a cenas de luta espetaculares e o lírico aos sentimentos?

Todos os povos têm as suas narrativas. A forma como se organizam pode variar, os meios através dos quais circulam podem ser diferentes, mas o fato é que contar histórias parece ser uma atividade própria da natureza humana. Dos poemas orais ao romance contemporâneo, a literatura registra a trajetória das narrativas e seu estudo nos ajuda a compreender as mudanças formais e de conteúdo por que passaram.

Os gêneros literários
O termo gênero é utilizado, nas diferentes formas de arte, para denominar um conjunto de obras que apresentam características semelhantes de forma e de conteúdo.
A primeira tentativa de organizar a produção literária de acordo com as características das obras foi feita pro Aristóteles, na Antiguidade Clássica.
A divisão aristotélica de gêneros baseia-se em dois critérios:

  • Forma: identificava como dramático o texto no qual não havia um narrador, apenas a atuação dos personagens, e como épico, o texto no qual o poeta narrador fala diretamente ou por meio de uma personagem (como nos poemas de Homero). Aristóteles não trata especificamente da produção lírica.
  • Conteúdo: identificou três focos de atenção da obra: as paixões, as ações e os comportamentos humanos.


No renascimento, a grande valorização da poesia lírica, desencadeada pela produção de Petrarca e seus seguidores, consolidou o estabelecimento de três categorias básicas ou gêneros literários: o épico, o lírico e o dramático. Essa classificação ainda é usada nos dias de hoje.


sábado, 21 de março de 2015

Literatura é uma linguagem!

Inventar mundos, despertar nossas lembranças, desencadear sensações, compartilhar emoções, provocar nossa reflexão sobre os mais diferentes aspectos da existência: como a linguagem literária, nos sons e sentidos que produz, adquire esse poder?

A essência da arte literária está na palavra. Usada por escritores e poetas em todo o seu potencial significativo e sonoro, a palavra estabelece uma interessante relação entre um autor e seus leitores/ouvintes.
 

O trabalho com o sentido conotativo ou figurado é uma característica essencial da linguagem literária. Quando a literatura explora esse sentido estabelece uma interessante relação entre leitor e texto. Ao ler um romance ou um poema ou ao ouvir uma história, o leitor/ouvinte precisa reconhecer o significado das palavras e reconstruir os mundos ficcionais que elas descrevem. O leitor/ouvinte desempenha, portanto, um papel ativo, já que também cria, em sua imaginação, mundos ficcionais correspondentes àqueles propostos nos textos ou vive, na fantasia, experiências semelhantes às escritas.

Sentido conotativo (ou figurado) é aquele que as palavras e expressões adquirem em um dado contexto, quando o seu sentido literal é modificado. Nos textos literários, predomina o sentido conotativo. A linguagem conotativa é característica de textos com função estética, ou seja, que exploram diferentes recursos linguísticos e estilísticos para produzir um efeito artístico

Sentido denotativo (ou literal) é aquele que predomina na linguagem não-literária. Dizemos que uma palavra foi utilizada em sentido literal quando é tomada em seu significado “básico”, que pode ser apreendido sem ajuda do contexto. A linguagem denotativa é típica de textos com função utilitária, ou seja, que têm como finalidade predominante satisfazer a alguma necessidade específica, como informar, argumentar, convencer, etc.

Plurissignificação é quando as palavras assumem no texto literário diferentes significados, como quando usamos o termo “dormir” para dizer a uma criança que alguém está morto.

Recursos da linguagem literária: o poder das imagens
A literatura, de certa forma, cria as condições para que também nós, leitores, olhemos de modo inovador para o mundo e, ao fazer isso, reconheçamos uma beleza que, à primeira vista, não parecia estar ali.
O poder de sugestão e evocação do texto literário depende da capacidade de o escritor escolher as palavras capazes de “desenhar”, para seus leitores, uma série de imagens. Por meio da decodificação dessas imagens, o leitor constrói, na sua imaginação, uma representação dos mundos ficcionais apresentados nos textos.




Arte, literatura e seus agentes

Em todos os tempos, em todos os lugares, homens e mulheres de diferentes culturas produziram arte. Por quê? O que é arte? O que explica esse impulso de criação, essa necessidade de manifestar simbolicamente a vida?

As muitas respostas possíveis para a pergunta sobre o que define arte variaram imensamente ao longo da história.
Durante muito tempo a arte foi entendida como representação do belo. Mas esse belo pode ser muito relativo e mudar de padrões ao longo dos anos ou da sociedade em que se insere ou se inseriu. Afinal, beleza é relativa, como dizem.


(Obras de Goya (acima) e Bottero (abaixo)

No século XIX, o Romantismo adotará os sentimentos e a imaginação como princípios da criação artística. O belo desvincula-se da harmonia das formas.
Do século XX em diante, diferentes formas de conceber o significado e o modo do fazer artístico impuseram novas reflexões ao campo da arte, dando, resumidamente, mais liberdade e flexibilidade ao que se considera belo (que muitas vezes será à primeira vista estranho e feio). Por tudo isso, a arte pode ser entendida como a permanente recriação de uma linguagem. Pode ser entendida também como uma provocação, um espaço de reflexão e de interrogação. É também um reflexo do autor (do artista, do criador) que filtra a realidade sob sua perspectiva e nos permite uma interpretação sob nossa perspectiva. Como todo artista está sempre inserido em um tempo, em uma cultura com sua história e suas tradições, a obra que produz será sempre, em certa medida, a expressão de sua época e de sua cultura.




Andy Warhol, Piet Mondrian, Jackson Pollock e Yayoi Kusama (respectivamente)


Os agentes da produção artística: Toda obra de arte interage com um público. Toda obra se manifesta em uma determinada linguagem, que se desenvolve em uma estrutura. Essa obra circula em meio, em determinado suporte para representá-la.
Em outras palavras: muito do significado de das intenções de quem produziu uma obra de arte pode ser revelado pelo reconhecimento dos vários agentes que contribuíram para sua criação: o artista, o contexto em que viveu, o público para qual a obra foi criada e, ainda, a linguagem e a estrutura em que foi produzida e seu contexto de circulação.

A arte da literatura e suas funções
A palavra função aqui se refere ao papel que a literatura desempenha nas sociedades; um papel que se configurou, em grande parte, a partir daquilo que o público leitor reconheceu como valor nessa arte ao longo da história da leitura. Foram os leitores, portanto, que atribuíram um papel à produção literária e que a mantêm viva até hoje.

  • ·         A literatura nos faz sonhar
  • ·         A literatura nos provoca reflexão
  • ·         A literatura diverte
  • ·         A literatura nos ajuda a construir nossa identidade
  • ·         A literatura nos “ensina a viver”
  • ·         A literatura denuncia a realidade

Vencedor do Oscar 2012 de melhor curta animado, “The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore” é uma homenagem às comédias de Buster Keaton, O Mágico de Oz, e o prazer de ler livros.