terça-feira, 24 de março de 2015

Gêneros Literários - O Épico

Gênero épico

Os longos poemas narrativos, em que um acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo solene, grandioso, são chamados épicos ou epopéias. O termo deriva do grego épos, que, dentre outros os seus significados, quer dizer palavra, verso, discurso.
As narrativas mais antigas têm um ponto em comum: todas contam os feitos extraordinários de um herói.
Provavelmente, a narrativa mais antiga que se tem notícia é a que conta, em versos, a história de Gilgamesh, rei de Urak, na Babilônia, que viveu por volta de 2700 a. C. É também a primeira epopéia a narrar os feitos de um herói pátrio. Apesar disso, considera-se que as obras épicas mais importantes para a literatura ocidental são a Ilíada e a Odisséia, que surgiram bem depois, por volta do século VIII a. C., e cuja autoria é atribuída a Homero. Supõe-se que tanto a Ilíada quanto a Odisséia tenham se originado de cantos populares e declamações em festivais religiosos.
Original da Ilíada, de Homero

Esses dois poemas épicos são considerados clássicos ou primários. Todos que se inspiraram neles são chamados de imitação ou secundários, como a Eneida, de Virgílio e Os Lusíadas, de Camões.

Mímese: um conceito muito importante para Aristóteles é o de mímese, que em grego significa imitação. Em sua obra Poética ele desenvolve a ideia de que a função da literatura, principalmente do teatro, é criar representações (imitações) das ações e comportamentos humanos, das paixões e forças que nos levam a agir. Segundo Aristóteles, quando observamos as representações criadas nos textos literários, vivemos experiências semelhantes às das personagens e aprendemos com isso.

As epopéias de imitação ou secundárias: Eneida, a primeira epopéia de imitação, foi escrita pelo poeta Virgílio entre os anos 30 e 19 a. C. Esse poema é considerado “a epopéia nacional dos romanos”, porque foi composta para glorificar a grandeza de Roma.
É no Renascimento, porém, que surge o mais conhecido poema épico de imitação, Os Lusíadas, de Luís de Camões. Escrito em uma sociedade bastante diferente daquela que viu surgir a Ilíada e a Odisséia, o poeta camoniano revela, na caracterização do herói Vasco da Gama, o objetivo de exaltar a bravura do povo lusitano, por ele representado no poema.
Ilustração de "Os Lusíadas"

Exaltação do povo: o fato de Camões escrever em um momento em o que Estado está claramente organizado e é responsável pela vida das pessoas faz com que a individualidade do herói deixe de ser importante. Assim, o que é exaltado é o povo lusitano que alcança a imortalidade por meio da figura do herói que o representa.
As transformações do herói: ao longo dos séculos, o conceito de poema épico se transformou para acomodar as mudanças sociais e políticas por que passaram as sociedades humanas. A maior transformação aconteceu no século XVIII, quando os longos poemas narrativos entraram em declínio e surgiu, como alternativa mais apreciada pelo público leitor, a narrativa em forma de romance.
Escrita em prosa, o romance também focaliza as aventuras de um herói. Mas, diferentemente do herói épico, o herói do romance representa muito mais o indivíduo do que o povo a que pertence. O tempo da glorificação das conquistas pátrias, por meio do herói, havia passado.
As sociedades europeias encontram-se claramente estruturadas, com seus limites geográficos e políticos definidos. Não é mais necessário, portanto, construir literariamente o conceito de “pátria” por meio das realizações extraordinárias dos heróis épicos, como aconteceu durante parte da Antiguidade e do Renascimento. Agora é a hora do triunfo do indivíduo, ao ser humano comum, como em Robinson Crusoé e O conde de Monte Cristo. O herói é, acima de tudo, um ser humano normal e pode fraquejar e sucumbir às tentações. O herói moderno enfrenta uma série de problemas cotidianos e luta para superá-los sem qualquer tipo de auxílio divino. Os obstáculos que enfrenta também são cotidianos e, geralmente, simbolizam as dificuldades de se afirmar a própria identidade em centros urbanos nos quais se aglomera um sem-número de indivíduos “anônimos”.
Esse é o motivo que explica a enorme popularidade do romance ao longo do século XIX: ele traz histórias de pessoas muito semelhantes ao seu público leitor, que também enfrenta uma série de obstáculos cotidianos.

"O senhor dos anéis"




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