Gênero épico
Os longos poemas narrativos, em que um
acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo
solene, grandioso, são chamados épicos ou epopéias.
O termo deriva do grego épos, que, dentre outros os seus significados, quer
dizer palavra, verso, discurso.
As narrativas mais antigas têm um ponto
em comum: todas contam os feitos extraordinários de um herói.
Provavelmente, a narrativa mais antiga
que se tem notícia é a que conta, em versos, a história de Gilgamesh, rei de
Urak, na Babilônia, que viveu por volta de 2700 a. C. É também a primeira
epopéia a narrar os feitos de um herói pátrio. Apesar disso, considera-se que
as obras épicas mais importantes para a literatura ocidental são a Ilíada e
a Odisséia, que surgiram bem depois, por volta do século VIII a.
C., e cuja autoria é atribuída a Homero. Supõe-se que tanto a
Ilíada quanto a Odisséia tenham se originado de cantos populares e declamações
em festivais religiosos.
Esses dois poemas épicos são
considerados clássicos ou primários. Todos
que se inspiraram neles são chamados de imitação ou secundários,
como a Eneida, de Virgílio e Os Lusíadas, de
Camões.
Mímese: um conceito muito importante para Aristóteles é o
de mímese, que em grego significa imitação. Em sua obra
Poética ele desenvolve a ideia de que a função da literatura, principalmente
do teatro, é criar representações (imitações) das ações e comportamentos
humanos, das paixões e forças que nos levam a agir. Segundo Aristóteles, quando
observamos as representações criadas nos textos literários, vivemos
experiências semelhantes às das personagens e aprendemos com isso.
As epopéias de imitação ou secundárias: Eneida, a primeira epopéia de imitação, foi escrita
pelo poeta Virgílio entre os anos 30 e 19 a. C. Esse poema é considerado “a
epopéia nacional dos romanos”, porque foi composta para glorificar a grandeza
de Roma.
É no Renascimento, porém, que surge o
mais conhecido poema épico de imitação, Os Lusíadas, de Luís de Camões. Escrito
em uma sociedade bastante diferente daquela que viu surgir a Ilíada e a
Odisséia, o poeta camoniano revela, na caracterização do herói Vasco da Gama, o
objetivo de exaltar a bravura do povo lusitano, por ele representado no poema.
Ilustração de "Os Lusíadas"
Exaltação do povo: o fato de Camões escrever em um momento em o que
Estado está claramente organizado e é responsável pela vida das pessoas faz com
que a individualidade do herói deixe de ser importante. Assim, o que é exaltado
é o povo lusitano que alcança a imortalidade por meio da figura do herói que o
representa.
As transformações do herói: ao longo dos séculos, o conceito de poema épico se
transformou para acomodar as mudanças sociais e políticas por que passaram as
sociedades humanas. A maior transformação aconteceu no século XVIII, quando os
longos poemas narrativos entraram em declínio e surgiu, como alternativa mais
apreciada pelo público leitor, a narrativa em forma de romance.
Escrita em prosa, o romance também
focaliza as aventuras de um herói. Mas, diferentemente do herói épico, o herói
do romance representa muito mais o indivíduo do que o povo a que pertence. O
tempo da glorificação das conquistas pátrias, por meio do herói, havia passado.
As sociedades europeias encontram-se
claramente estruturadas, com seus limites geográficos e
políticos definidos. Não é mais necessário, portanto, construir
literariamente o conceito de “pátria” por meio das realizações extraordinárias
dos heróis épicos, como aconteceu durante parte da Antiguidade e do
Renascimento. Agora é a hora do triunfo do indivíduo, ao ser humano comum, como
em Robinson Crusoé e O conde de Monte Cristo. O herói é, acima de tudo, um ser
humano normal e pode fraquejar e sucumbir às tentações. O herói moderno
enfrenta uma série de problemas cotidianos e luta para superá-los sem qualquer
tipo de auxílio divino. Os obstáculos que enfrenta também são cotidianos e,
geralmente, simbolizam as dificuldades de se afirmar a própria identidade em
centros urbanos nos quais se aglomera um sem-número de indivíduos “anônimos”.
Esse é o motivo que explica a enorme
popularidade do romance ao longo do século XIX: ele traz histórias de pessoas
muito semelhantes ao seu público leitor, que também enfrenta uma série de
obstáculos cotidianos.
"O senhor dos anéis"
Legal!!!
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